Neste artigo, exploramos como o Brasil pode acelerar a jornada rumo a uma transição energética global justa e inclusiva, equilibrando economia, meio ambiente e bem-estar social. Mais do que dados, trata-se de inspirar ações efetivas.
Cenário Atual das Emissões no Brasil
Em 2024, o país registrou 2,145 bilhões de toneladas de CO2 equivalente (GtCO2e), uma queda de 16,7% frente aos 2,576 GtCO2e de 2023. Essa redução histórica deve-se majoritariamente ao combate ao desmatamento, mas ainda há muito a avançar em outros setores.
Ainda que celebrada, essa diminuição evidencia a dependência de uma única alavanca para mitigar emissões. É urgente diversificar estratégias e envolver energias renováveis, transporte, indústria e agropecuária.
Compromissos e Desafios das Metas Nacionais
O Brasil estabeleceu metas ambiciosas:
- Limitar emissões a 1,32 GtCO2e até 2025, mas projeta 1,44 GtCO2e.
- Chegar a, no máximo, 1,2 GtCO2e em 2030.
- Reduzir de 59% a 67% as emissões até 2035, comparado a 2005.
Distribuição de Emissões por Setor
Entender quais setores concentram o problema é essencial para definir prioridades e otimizar recursos.
O Papel do Desmatamento na Queda das Emissões
Amazônia e Cerrado registraram as menores taxas de desmatamento em mais de uma década: 11,08% e 11,49% de redução, respectivamente. Essas conquistas revelam a eficácia de ações de comando e controle em biomas estratégicos.
Entretanto, manter esse ritmo exige apoio contínuo, fiscalização rigorosa e parcerias com comunidades locais. Sem diversificação de esforços, toda a carga de mitigação fica concentrada na floresta.
Paradoxo dos Subsídios a Combustíveis Fósseis
Apesar dos compromissos climáticos, o governo federal destinou R$ 81,9 bilhões para subsídios a combustíveis fósseis e apenas R$ 18,06 bilhões para as renováveis. Esse desequilíbrio reproduz um subsídios desproporcionais aos combustíveis fósseis nacionais que freia a adoção de tecnologias limpas.
- R$ 335 bilhões via Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
- R$ 73 bilhões em investimentos da Petrobras até 2028.
- 81,9% dos incentivos fiscais do setor energético favorecem o petróleo.
Reverter esse quadro passa por redirecionar incentivos e criar mecanismos que valorizem fontes de baixo carbono.
Oportunidades de Descarbonização por Setor
Cada setor traz soluções específicas. Integrá-las de forma coordenada é a chave para avançar além do desmatamento.
Transporte
Responsável por 11% das emissões brasileiras, o setor conta com três principais alavancas:
- Uso intensivo de biocombustíveis.
- Mudança de modal para transporte público e ferroviário.
- Eletrificação gradual da frota.
Com recorde de 36 bilhões de litros de álcool em 2024, o etanol se tornou competitivo. A explosão na produção de etanol de milho elevou sua participação para 20%, reduzindo emissões de passageiros em 3%.
Energia
O setor manteve-se estável em 424 MtCO2e. O Brasil lidera entre as nações do G20 em participação de energias limpas, gerando um cenário propício para data centers e produção de hidrogênio verde.
Para avançar, é necessário incentivar projetos de armazenamento e ampliar a capacidade de interligação entre regiões, garantindo maior participação de energia limpa do mundo.
Agricultura e Pecuária
Responsável por dois terços das emissões nacionais, a agropecuária enfrenta o desafio de conciliar produtividade e sequestro de carbono. Embora o PIB do agronegócio deva chegar a 29,4%, o setor carece de monitoramento oficial das remoções de CO2 pelo solo, hoje estimadas em 281 milhões de toneladas.
Iniciativas de práticas agropecuárias ambientalmente sustentáveis precisam de escala e financiamento para tornar-se realidade em larga escala.
Indústria
O Brasil conquistou o primeiro lugar em programa global de descarbonização industrial, garantindo R$ 1,3 bilhão em financiamento para tecnologias limpas e circulares de baixo carbono. Projetos de hubs de hidrogênio verde e processos circulares podem transformar a matriz industrial.
Garantir a aplicação desses recursos em inovação e capacitação profissional fortalece a competitividade e reduz custos de transição.
Desafios Estruturais e Caminho Adiante
A desconexão entre crescimento econômico e emissões ainda persiste. É preciso aliar políticas públicas, financiamento climático e participação ativa da sociedade civil para reverter essa tendência.
Estimativas indicam que US$ 1,3 trilhão são necessários globalmente para a descarbonização. No Brasil, a ligação entre projetos, setor privado e instituições financeiras precisa ser fortalecida.
Ao direcionar recursos para soluções inovadoras, estimular cadeias de valor sustentáveis e valorizar as comunidades locais, podemos construir um modelo de investimento sustentável com impacto social positivo e cumprir nossos compromissos climáticos.
Referências
- https://capitalreset.uol.com.br/clima/brasil-reduz-167-das-emissoes-em-2024-e-deve-bater-na-trave-da-ndc-de-2025/
- https://brasil.mongabay.com/2025/02/brasil-mira-descarbonizacao-mas-segue-subsidiando-combustiveis-fosseis/
- https://www.gov.br/secom/pt-br/assuntos/noticias/2025/06/descarbonizacao-da-industria-brasil-fica-em-1o-lugar-em-programa-global-e-recebera-mais-de-r-1-bilhao
- https://timesbrasil.com.br/brasil/exclusivo-brasil-apresenta-medidas-de-descarbonizacao-em-agricultura-energia-e-minerais-antes-da-cop30/
- https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/brasil-e-realista-na-descarbonizacao-diz-vp-senior-da-siemens-energy/
- https://liga.amcham.com.br/panorama-da-descarbonizacao/
- https://www.economsolucoes.com.br/tendencias-de-descarbonizacao-para-2025/







