ESG: Investindo com Propósito e Lucro

ESG: Investindo com Propósito e Lucro

O conceito de ESG (Environmental, Social and Governance) vai além da busca por retorno financeiro, representando uma mudança de paradigma no mercado global. Ao unir performance e impacto, investidores têm a oportunidade de gerar valor sustentável para diversas partes interessadas.

Contexto Global e Projeções Financeiras

Os investimentos ESG vêm se consolidando como uma das tendências mais robustas do cenário financeiro mundial. Enquanto, em 2020, esse universo somava cerca de US$ 35 trilhões, as estimativas apontam que poderá alcançar impressionantes US$ 50 trilhões em poucos anos.

Relatórios indicavam expectativa de US$ 53 trilhões alocados em ativos ESG até 2025, representando mais de um terço do total sob gestão de recursos globais. Esse crescimento reflete o aumento da demanda por soluções que mitiguem riscos climáticos, promovam equidade social e reforcem práticas de governança corporativa.

Panorama do Mercado Brasileiro de ESG

No Brasil, o ritmo de evolução dos fundos sustentáveis tem se destacado. Em julho de 2025, os fundos de investimento sustentável (IS) registraram um patrimônio líquido de R$ 36,8 bilhões, um avanço de 48,4% em relação a dezembro de 2024.

Enquanto algumas regiões, como Estados Unidos e Europa, observaram resgates em seus fundos ESG, o mercado brasileiro apresentou crescimento consistente e expressivo, captando quase R$ 8 bilhões apenas no primeiro semestre de 2025.

  • Patrimônio líquido total de fundos ESG: R$ 34 bilhões até maio de 2025.
  • Crescimento de fundos ESG até maio: 28%, frente aos 4,27% da indústria.
  • Captação líquida (jan–mai/2025): R$ 6,22 bilhões.
  • Número de contas em fundos IS saltou de 80,4 mil para 149,8 mil.

Uma das mudanças mais marcantes na composição desses recursos refere-se à migração de ações para renda fixa. Até 2022, ativos acionários dominavam mais de 90% dos volumes; hoje, representam apenas 17%, enquanto a renda fixa corresponde a 78%.

Em particular, fundos de renda fixa ESG cresceram 48%, totalizando R$ 26,4 bilhões, apoiados no apelo de títulos vinculados à taxa Selic.

Títulos ESG na B3

A bolsa brasileira registrou, no primeiro semestre de 2025, 23 novas emissões de títulos temáticos ESG, somando R$ 10,35 bilhões. Ao final de junho, o estoque total chegou a R$ 138,16 bilhões, 7% acima do encerramento de 2024.

Esses papéis, fundamentais para financiar projetos sustentáveis, incluem debêntures, bonds e certificados de recebíveis. A seguir, uma tabela ilustra a distribuição dos principais instrumentos:

Apesar de uma retração de 65% nas emissões de títulos sustentáveis no primeiro semestre de 2025, influenciada por instabilidade geopolítica, a atração por renda fixa permanece firme, demonstrando confiança na solidez desse segmento.

Desempenho dos Índices ESG

Em 2025, vários índices sustentáveis brasileiros superaram benchmarks tradicionais. Exemplos notáveis incluem o ECOO11, que rendeu 37,22%, e o ISUS11, com alta de 34,54% até novembro, ambos superiores ao Ibovespa, que avançou 14,7%.

Esse desempenho robusto confirma que empresas comprometidas com critérios ESG não apenas atraem capital, mas também entregam resultados consistentes a longo prazo.

Metodologias e Critérios de Seleção

Gestores de fundos adotam diversas abordagens para avaliar ativos sob a ótica ESG. Entre as principais, destacam-se:

  • Triagem negativa: exclusão de setores como carvão, tabaco e armamentos.
  • Rating interno e externo aplicado a emissores de capital.
  • Priorização de líderes de sustentabilidade em cada setor.
  • Triagem positiva focada em impacto social e ambiental.

Além disso, indicadores monitorados incluem mudança climática (41% dos fundos), transparência e remuneração executiva (31%) e práticas de diversidade e inclusão (41%).

Exigências Regulatórias e Conformidade

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) prepara uma nova norma de divulgações financeiras relacionadas a eventos climáticos, que será obrigatória a partir de 2026. Essa regra visa aumentar a transparência e uniformizar relatórios de sustentabilidade.

Paralelamente, o governo federal desenvolve uma taxonomia que definirá critérios para classificar investimentos como sustentáveis, criando um padrão de referências para mercado e empresas.

Organizações com baixa pontuação em ESG podem enfrentar dificuldades para atrair investidores, reforçando a necessidade de integrar esses critérios à estratégia corporativa.

Recomendações para Empresas

Para se destacar e captar recursos em fundos ESG, as empresas devem:

  • Ampliar a composição do conselho com especialistas em sustentabilidade.
  • Instituir um comitê de sustentabilidade para alinhar metas ESG à estratégia de negócios.
  • Vincular parte da remuneração executiva ao cumprimento de objetivos socioambientais.

Essas práticas auxiliam na atração de capital de longo prazo, fortalecem a reputação e contribuem para a geração de valor compartilhado.

Conclusão

Investir com propósito e lucro é possível por meio dos critérios ESG. Aos gestores cabe balancear rentabilidade e responsabilidade, enquanto às empresas, adotar práticas transparentes e sustentáveis. Esse ecossistema promissor molda o futuro das finanças, pavimentando o caminho para um mercado mais resiliente, inclusivo e comprometido com o bem-estar do planeta e das pessoas.

Marcos Vinicius

Sobre o Autor: Marcos Vinicius

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